
Eduardo Coutinho: 90 anos
Por Claudius Ceccon
Como parte das homenagens a Eduardo Coutinho, que faria 90 anos no dia 11 de maio, foi realizada na Cinemateca do MAM a exibição de dois documentários dirigidos por ele. “Teodorico, o Imperador do Sertão”, um Globo Repórter, realizado em 1978, em plena ditadura, é a primeira experiência de Coutinho de abrir espaço para que o entrevistado se revele de corpo inteiro. Ao contrário do que se fazia então, onde um narrador em off dizia o que deveríamos entender das imagens que nos eram mostradas, Coutinho deixa o personagem expor como age em suas terras, revelando a visão de mundo que justifica o que faz. O cineasta fala pouco, apenas o necessário para que a narrativa possa fluir. É um retrato sem retoques de uma realidade em que as próprias vítimas justificam a exploração a que são submetidos.
A projeção de Boca de Lixo entrou em seguida, entrou sem interrupção, sem título, sem informações sobre quem produziu o documentário, mas era evidente que se tratava de uma obra do Coutinho mais recente. Desta vez, ele dialoga com os personagens, demonstrando uma enorme empatia. Ele e a equipe de filmagem não são bem-vindos pelos catadores, já acostumados com outros jornalistas que vêm colher imagens de longe, sem sujar os pés no lixo nauseabundo da situação que é considerada o ponto mais baixo de degradação humana, e se vão, sem entrar em contato com quem está ali trabalhando. Coutinho e equipe ficam. Passam horas. Voltam no dia seguinte. E no outro. E nos demais. Coutinho escolhe seus personagens, dialoga, escuta, procura entender quem são, porque estão ali, o que pensam, quais são seus sonhos. A sua curiosidade, o fato de que faz perguntas que fazem sentido e ouve as respostas sem julgar, faz com que nos surpreendamos ao ver a humanidade deles e delas.
Comentar um filme, criticamente, não pode prescindir de saber em que circunstâncias foi feito. A equipe trabalhou voluntariamente e o custo de alugar equipamento, um item proibitivo, fez parte da parceria com o CECIP num projeto que expressou a razão de sua existência.
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