
Inédito Viável para um novo despertar
Inédito Viável para um novo despertar
A equipe do Centro de Criação de Imagem Popular recebeu ontem à tarde os convidados Vilma Guimarães e Sergio Haddad para o Café CECIP, uma live em homenagem ao centenário de Paulo Freire. Dezenas de educadores e professores se conectaram para celebrar o legado do Patrono da Educação Brasileira (MEC, 2012) relembrando suas ideias e experiências. Ao longo de todo o encontro, os participantes apontaram princípios que caracterizam a pedagogia da autonomia, refletindo como é possível construir pontes em tempos atuais de negacionismo, fake news, comunicação baseada no ódio e isolamento social.
Vilma, que trabalhou na Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco e foi Gerente Geral de Educação da Fundação Roberto Marinho, lembrou da parceria com Freire em projetos de alfabetização de camponeses em Angicos, no Rio Grande do Norte. Ela exibiu um vídeo no qual o educador retorna à cidade em 93, reencontrando ex-alunos que tiveram suas realidades transformadas por seu método. Em sua apresentação, a professora destacou virtudes como a tolerância, escuta ativa e o diálogo, questões centrais da práxis freiriana, para o avanço e revelou estar confiante de que não há possibilidade de retrocesso. Em relação ao estado de intolerância que muitos permanecem após sustos e perdas recentes, ela assinalou:
“Se Paulo Freire estivesse vivo, acho que ele continuaria dialogando, seguindo com o processo de inclusão, mas sendo firme, reafirmando suas propostas. Diálogo, escuta e inclusão com muita paciência histórica e afeto. Estamos mais intolerantes, nos acomodamos, levamos um susto. A pandemia paralisou, chacoalhou e provocou um desânimo nada freiriano. A gente não pode desistir. Ninguém solta a mão de ninguém. Vamos esperançar o Brasil”, convocou, destacando a necessidade de dialogar ainda mais.
Já o pesquisador e biógrafo Sergio Haddad disse que aprendeu com Freire que a educação está na vida das pessoas. Para ele, a escola precisa se reinventar considerando as vivências de alunos e professores durante uma das maiores crises humanitárias que foi o surgimento do coronavírus e seus efeitos.
“Nosso futuro e o da educação não podem ser construídos sem ouvir as pessoas e suas experiências com a pandemia. Ouvir as pessoas, os professores, perguntar, partir do saber sobre essa vivência para poder avançar no futuro. A história não é inexorável, o futuro não é inexorável, somos nós que iremos construir. Acender nossas luzes e velas”, declarou.
Antes das falas dos convidados, Lorenzo Aldé, presidente do CECIP, explicou o significado da expressão “inédito viável”, cunhada pelo educador e que deu nome à live. Aldé observou que Freire a utilizava para afirmar que é possível realizar o que nunca foi feito antes, lançando assim um olhar de esperança para um futuro a ser construído. Nos tempos atuais, pontuou, o ineditismo se apresenta através de um contexto político forjado por forças reacionárias, “não por acaso, as mesmas que anos atrás o perseguiram na ditadura, são os mesmos personagens desta época, os doutrinadores”. Entretanto, assinalou, é possível atravessar esse momento sombrio, tecendo uma retomada que aponte para novos tempos permeados pelo respeito, afeto, pela diversidade e inclusão.
“A figura e o pensamento de Freire sempre foram muito simbólicos e estruturantes de momentos inéditos do país: a redemocratização inédita, porém viável. A própria TV Maxambomba, que junto com Coutinho, foi viabilizada como uma experiência histórica de educação popular e expressão cultural, na qual os moradores da Baixada puderam refletir sobre a realidade e contar suas próprias histórias. Não é o excesso de Paulo Freire que detém o avanço, é a falta dele”, afirmou.
Claudius Ceccon, diretor-executivo, falou sobre o convívio com Freire, sua importância para a fundação da organização e como seus ideais seguem até hoje inspirando práticas transformadoras no Brasil e no mundo. Madza Ednir, Pedagoga e Consultora Sênior do CECIP, mostrou como o princípio freiriano do Diálogo horizontal permeia todos os projetos da organização, os quais criam, agora, o que é inédito porém viável. A ideia é que este centenário continue pautando novas conversas, acompanhadas de reflexões que cultivem novos caminhos em prol das mudanças necessárias para o Bem Viver.
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