Pela Cultura de Paz nas Escolas

Quando um avião cai, imediatamente providências são tomadas pelas autoridades competentes, pelas empresas que o fabricaram e por especialistas chamados a investigar as possíveis causas do acidente.

Quando muitos aviões caem – do mesmo tipo, em circunstância análogas – o modelo é retirado de circulação até que se descubra onde estão as falhas: no projeto? Na execução? na manutenção? No treinamento de quem opera o aparelho? Se as causas puderem ser corrigidas, um modelo aperfeiçoado volta a voar. Se não, o modelo é condenado. Às vezes, também o fabricante.

E os desastres, as tragédias, que acontecem na escola?

O horror a que estamos assistindo revela a escola como um reflexo de uma sociedade profundamente doente. Num país escandalosamente desigual, nosso sistema educacional é resultado da pouca importância que lhe é dada por sucessivos governos e congressistas de plantão. Sua visão limitada condena uma parcela imensa de nossa juventude a um futuro sem perspectivas.

As causas do que aconteceu em São Paulo, em Blumenau e, sem tanto alarde, vêm acontecendo em todo o Brasil, já são conhecidas. A misoginia, o racismo, o ódio e todo tipo de preconceitos que afloraram nos últimos quatro anos, não foram criações de um ex-presidente eticamente incapaz. Ele foi, na verdade, apenas um dos frutos do lado sombrio de nossa cultura. Aberta a Caixa de Pandora, o que era oculto, o que era preconceito mal disfarçado, o que não era dito abertamente, foi liberado. Para encobrir essa vergonha, um discurso de falso moralismo e de exploração despudorada da fé cristã.

Este é o ambiente do qual a escola precisa se livrar.

Não há bala de prata. Falsas soluções – colocar a polícia dentro da escola ou ter detectores de metais na entrada – não tocam o cerne do problema. Ele reside na desigualdade profunda de nosso sistema.

Conflitos são parte da vida. Simples ou graves, nos forçam a rever posições ou reafirmar valores. É preciso compreender sua origem e natureza, lidar com eles e superá-los, para que não se transformem em violência.

O grupo de educadores que estudou a situação da escola brasileira durante o período de transição elaborou um excelente relatório. O diagnóstico e as medidas para solucionar os problemas levantados mostra um caminho para reinventar a escola a partir do que ela é hoje.

O CECIP é uma das Organizações da Sociedade Civil que vêm trabalhando essas questões. Vivenciamos experiências que podem ganhar escala, da creche ao ensino fundamental e médio ao universitário. No final da primeira década do século XXI produzimos o livro Conflitos na Escola: Modos de Transformar (CECIP/Imprensa Oficial de São Paulo, 2009), com dicas e exemplos de como lidar com esses conflitos. Ali dissecamos as palavras conflito e violência, falamos de fatores externos e internos que influem no dia a dia da escola, damos sugestões de como cultivar uma escola segura e cidadã, de como prevenir violências e restaurar danos, quando eles existem, e de como buscar alianças e parcerias para melhorar o ambiente escolar. Desde então, tivemos uma série de projetos, iniciativas próprias ou de colaboração com organizações empresariais e poderes públicos, em áreas que apontam um dos caminhos que a educação para todos deve seguir: a capacitação de alunos em produções artísticas e comunicacionais, com a utilização das mídias sociais e do universo digital.

É imprescindível e urgente superar o fosso que existe entre ensino público e privado. Sabemos que a escola pública, gratuita e de qualidade, é possível. Como dizia Paulo Freire, nossa utopia é a realização do inédito viável.

Claudius Ceccon

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