É difícil encontrar palavras para descrever os sentimentos que nos tomam neste momento, a todos nós que tivemos o privilégio de conviver com Eduardo Coutinho, amigo e companheiro de décadas, ao nosso lado desde a fundação do CECIP, em 1986.
Palavras, que nos faltam agora, foram a matéria-prima da criação de Coutinho. Sua sensibilidade para ouvir as pessoas tinha um efeito surpreendente e emocionante: na fala de cada entrevistado, por mais “comum” que todos pareçam a princípio, descortina-se a mais profunda humanidade, com todas as suas nuances e contradições. Cada ser humano carrega consigo toda a humanidade, foi o que ele nos ensinou. À sua maneira: sem pretensão de ensinar, sem vaidade intelectual, com bom humor e agudo senso crítico, mais afeito às perguntas que às respostas, sempre disposto a encontrar, tanto nos filmes quanto em singelos bate-papos cotidianos, novas revelações e renovadas inquietações.
Diante da perplexidade dessa perda, a arte se reafirma como o maior legado que se pode deixar. Ver e rever sua grande obra será o consolo para amenizar a saudade que já se faz dolorosamente presente. E é em seus filmes que está o caminho para cristalizarmos o sentimento derradeiro e mais profundo que Coutinho merece: gratidão.