Quando Coutinho estava imerso na pesquisa do roteiro de “O Jogo da Dívida” e começava a gravar depoimentos, surgiu a Conceição. Com seu jeito assertivo, uma oratória brilhante e um raciocínio apurado, Maria Conceição Tavares acabou sendo o fio condutor de todo o documentário, “uma abordagem macroeconômica amparada num turbilhão de dados estatísticos, gráficos animados e entrevistas com especialistas”, como disse Carlos Alberto de Mattos no livro “Sete Faces de Eduardo Coutinho”.
Conceição dava sentido a essa overdose de informações, com afirmações claras, ditas muitas vezes com verdadeira indignação. A edição do vídeo enfrentou problemas difíceis, quando seu raciocínio devia ser interrompido, pois não havia “ponto de corte”, para não mencionar a tarefa de legendar a torrente de palavras. O documentário ganhou vários prêmios, inclusive do Berlin VideoFest, de 1990. Circulou pelo Brasil, por países sul-americanos e europeus, em comunidades, universidades e sindicatos, onde a figura de Conceição impressionou a ponto de personificar o próprio documentário.
Ele continua válido até hoje e o pensamento inspirador de Maria Conceição Tavares, que nos deixou hoje, aos 94 anos, encontra nele um de seus melhores momentos. 📸 acervo histórico arquivo central / Unicamp.