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O que fazer?

Imaginem morar num edifício com muitos apartamentos, como tanta gente de classe média mora no Rio de Janeiro. Agora, imaginem essa cena:

Na hora em que você vai saindo de casa para trabalhar, ou para levar as crianças para a escola, o seu edifício é invadido por policiais armados até os dentes, que começam imediatamente a atirar! Você volta correndo, fugindo das balas, carregando como pode as crianças e se refugia em seu apartamento! Mas não adianta, a porta é derrubada a pontapés pela polícia, procurando alguém, que poderia estar escondido debaixo da sua cama. Você tenta, com seu corpo, proteger seus filhos, e nem tem voz para reagir a tamanha truculência. Só espera que isso acabe, que eles vão embora. Sua porta destruída é o que se chama de “danos colaterais”. E depois você fica sabendo que também houve “vítimas colaterais” – pessoas que foram executadas, na duvidosa suspeita se eram ou não traficantes, ou então foram atingidas por “bala perdida” – entre eles, pode ter sido o seu vizinho aposentado, com problema de mobilidade, que não conseguiu fugir, e, quem sabe, um colega de seus filhos?…

O que parece apenas fruto da imaginação, uma ficção aterrorizante, acontece todos os dias em favelas como Rocinha, Cantagalo, São Carlos, Complexo do Alemão e muitas outras. Os tiroteios começam antes das 6 e meia da manhã, impedindo as crianças de irem à escola e desaconselhando quem trabalha a sair de casa. Mas também podem começar mais tarde, às 9 e meia, dez horas, quando as crianças já estão na escola, ou estão saindo, porque os professores não conseguiram chegar. E à noite, quem pode dormir com barulho de tiros, rajadas de metralhadora e granadas?

O que acontece com as crianças? Pediatras já têm nomes para as profundas consequências dos traumas que elas sofrem a cada dia. O medo das crianças pequenas que moram no Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa, não é de bicho-papão. Seus pesadelos são povoados por helicópteros, caveirões e homens com máscaras ninja. Que futuro elas imaginam?

Não é possível naturalizar o que está acontecendo. Não podemos fingir que não é conosco. Não podemos admitir que aconteça essa violência contra a população pobre e trabalhadora, por imposições políticas oportunistas, que ignoram que a questão das drogas tem de ser equacionada de outra maneira, como dizem, em uníssono, os especialistas que estudam o assunto.

A população pobre precisa de outra política, que reconheça seus direitos de cidadania e elimine o que tanto nos envergonha: a injusta distribuição de renda do Brasil. Ela está na raiz de todos os males que infelicitam nosso país. É o fio da meada que desfará os nós que impedem esse país de tornar-se uma verdadeira democracia. Essa é a tarefa que deve mobilizar a nós todos.

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