Já eleito, mas ainda não empossado, Lula foi visitar o Museu da Amazônia, sendo recebido pelo seu diretor, que o saudou com essa fala, tão Ennio Candotti:
— Quando vinha para cá, perguntei às árvores que recado elas queriam dar ao presidente eleito…
A partir dessas palavras, o fino humor do Ennio, transformou uma ocasião que teria sido formal, como tantas outras, numa reunião em que ideias concretas fossem colocadas na mesa. Certamente Lula e sua comitiva lembrarão do choque de realidade provocado por essa fala inicial.
Ennio Candotti acaba de nos deixar. Ainda não nos damos conta da falta que ele nos fará. Um dos fundadores do CECIP, ao longo desses anos Ennio esteve presente, da maneira então possível. Graças à internet, as distâncias diminuíram e sua presença dependia apenas de um pequeno gesto de digitação. Numa reunião em que se discutia mais uma revisão da missão do CECIP, Ennio nos chamou a atenção para os direitos ambientais, direitos que incluem todos os seres vivos. Parecia óbvio, mas foi preciso que Ennio os mencionasse, entre tantas ideias com que ele nos estimulava e desafiava a nos envolver cada vez mais na tarefa de tornar este país mais justo para todos. A amizade, a fina sensibilidade, a inteligência e seu bom humor tornavam essa busca uma aventura que vale a pena viver. Uma aventura à qual ele dedicou integralmente sua inteligência e talento.
A ciência brasileira perde uma de suas expressões mais legítimas, mas as ideias semeadas por Ennio continuarão a dar frutos.
Em outros lugares haverá uma extensa lista de tudo o que Ennio fez, suas contribuições à ciência brasileira, como professor, editor da revista Ciência Hoje e de sua versão infantil, eleito por quatro vezes à frente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, as honrarias que recebeu ao longo da vida. Nós, aqui, em todos esses anos de convivência, lembramos do amigo de todas as horas, do pai que levava seu filho Fabio na Creche Ueriri, (e que mais tarde se orgulhava do caminho profissional que ele escolheu como professor), do Presidente da SBPC que trouxe Paulo Freire e sua equipe ao anfiteatro da UERJ, das conversas sobre o que fazer a partir da redemocratização, conversas que levaram à criação do CECIP, que ele defendeu com paixão todo esse tempo, e aos muitos desafios que cada conversa provocava.
Foi um privilégio conviver com Ennio Candotti.