No último sábado, 29 de novembro, a Biblioteca Parque da Rocinha (C4) recebeu a segunda edição do evento “Tecendo Histórias na Rocinha” do projeto Balaio de Livros. O encontro, aberto à comunidade, contou com a presença das crianças, famílias, profissionais de saúde, educação, cultura, transformando o espaço num “Mar de histórias”, conversas, afetos e brincadeiras. O objetivo do evento é promover o direito das crianças ao acesso qualificado ao livro e à literatura.
Logo que chegavam, as pessoas eram recebidas no “aconchego literário” com diversas publicações infantis à disposição. Depois, a Creuza Barbosa Drag, figura icônica e guia turística da Rocinha, conduzia o público para a área de literatura infantil, destacando o papel do local como pólo de conhecimento e encontro na comunidade.
“Ao todo são 18 mil livros. Temos arquivos em braille, a área infantil, uma parte só com autores da nossa comunidade. É um equipamento muito importante para nós e que precisa ser valorizado. O Balaio de Livros acontece aqui, com essa energia da Rocinha, com o trabalho dedicado de educadoras que olham pela educação e cultura das nossas crianças”, afirmou.
Em seguida, a pedagoga Marta Diniz, que participa do Balaio e atua na Ação Social Padre Anchieta (Aspa) e na creche Saci Sabe Tudo, convidou as crianças para uma conversa sobre a sua própria história. A família da Martinha faz parte do grupo de primeiros moradores da Rocinha. Ela lembrou disso em sua apresentação e, com uma “cesta de lembranças”, relembrou o pai, que foi uma liderança comunitária muito importante na luta por melhorias na favela, e a mãe, considerada uma costureira de mão cheia. Os objetos da cesta circularam nas mãozinhas pequenas e Martinha contava a eles suas memórias.
A programação seguiu com Luciano Ramos, autor do livro Quinzinho, historiador e diretor do Instituto Mapear. O bate-papo foi conduzido por Maria Lúcia Lara, pedagoga e consultora do Balaio de Livros. Juntos, eles debateram a importância da representatividade nas narrativas. Em outra sala, Sônia Travassos, escritora e pesquisadora de literatura infantil, encantava as crianças com a atividade “No fundo do fundo do mar: ler, cantar e criar”, explorando as possibilidades lúdicas da leitura.
Sentada na primeira fileira, a pequena Maria Isabel da Cruz, de 4 anos, manteve-se o tempo todo atenta. Cantou, respondeu as perguntas sobre os seres do mar e ficou orgulhosa do peixão que desenhou no final da atividade: “Desenhei um peixe bem grande. É que tem peixinho e peixão. O meu é grandão, do tamanho do avião, quem sabe ele também pode voar? As crianças podem fazer um peixe voar”, disse.
Para Rafaelle Rodrigues, professora da área de educação infantil, que é também uma das participante do Balaio, “o evento teve o clima do projeto: agregador”.
“Entendemos que o livro precisa estar acessível às crianças não só na educação, mas também na cultura, na assistência social e na saúde. Agregar áreas. O livro é o caminho mais lindo para a liberdade de pensar, o imaginário, o reconhecimento. É a base para que eles possam sonhar longe, muito além das vielas, sabendo que o mundo também é deles”, afirmou Rafaelle.
Ao final da programação, a educadora Martinha recebeu uma linda homenagem do CECIP pela sua atuação há mais de 30 anos em prol da Primeira Infância na Rocinha.
“É uma emoção muito grande ser reconhecida desta forma neste local, na Rocinha, que é minha vida, minha história, minhas raízes”.
O Balaio de Livros: Tecendo Histórias na Rocinha vem sendo realizado desde abril desse ano. Em 2026, a equipe do CECIP acompanhará a aplicação do Plano de Trabalho nas instituições onde trabalham as educadoras participantes. O projeto é uma iniciativa contemplada via edital da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) em virtude do título do Rio de Janeiro como Capital Mundial do Livro, concedido pela Unesco.














































