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Além da Covid-19, doenças graves como sarampo e poliomelite rondam o Brasil

Convidadas da live do Rocinha pela Vida relembram conquistas do Plano Nacional de Imunização (PNI) e alertam para os riscos da baixa cobertura vacinal no país

A live do Rocinha pela Vida, realizada na última quinta-feira, especialistas da área da saúde alertaram para os riscos da baixa cobertura vacinal no país. Casos de sarampo já são uma realidade, com 668 pessoas acometidas em diferentes regiões do Brasil. Lurdinha Maia, médica, especialista em saúde pública e coordenadora do Instituto Bio-Manguinhos, e Maria Helena Carneiro de Carvalho, enfermeira, coordenadora de área na Secretaria Municipal de Saúde foram as convidadas do encontro, organizado pelo Museu Sankofa Memória e História da Rocinha e pelo CECIP, para marcar o Dia Estadual de Mobilização para enfrentamento da Covid-19 e seus impactos nas favelas e periferias. Durante o evento, Lurdinha e Maria Helena compartilharam dados e fatos sobre a adesão da população às imunizações. Além do sarampo, um possível retorno da poliomelite, que precisa ter 95% de cobertura vacinal para não voltar a comprometer a saúde dos brasileiros, também preocupa. Na maioria dos estados brasileiros, esta cobertura está menor do que 50% nas crianças com até 1 ano de idade. (Como mostra o gráfico abaixo – primeiro mapa da direita para a esquerda)

A partir do tema “A importância das campanhas de vacinação ontem e hoje”, elas traçaram um panorama da saúde brasileira desde a década de 70 até os dias atuais. Nessa linha do tempo, a população foi afetada por febre amarela, poliomielite, varíola e sarampo. Mas o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado há 48 anos pela Lei nº 6.250, de 30 de outubro de 1975, poupou muitas vidas, diminuindo e até mesmo zerando a taxa de mortalidade de muitas doenças.

Através de dados oficiais da Fiocruz e do Ministério da Saúde, Lurdinha apontou as conquistas relacionadas ao PNI. A erradicação da varíola em 1973, a erradicação da poliomelite em 1989, o último caso autóctone de sarampo em 2000 e o ganho do certificado de eliminação do sarampo em território nacional, em setembro de 2016 (com a perda três anos depois), foram algumas delas.

“Há um mundo de vacinas, mas é necessário haver cobertura para que ela combata a doença. O país hoje tem baixas coberturas vacinais e um grande risco de reintrodução de doenças. Já temos 668 casos confirmados de sarampo em todas as regiões do Brasil. Em 2019, a OMS apontou  que as baixas coberturas vacinais são um dos 10 maiores problemas de saúde pública. Então, temos muitas conquistas, mas também o risco de perdê-las. As baixas coberturas vão criando bolsões porque temos um país muito diverso e desigual: a região Norte não se comporta como a região Nordeste”, pontuou a médica, complementando: “Os benefícios da vacina são comparáveis ao da água potável. Estes benefícios tem se mostrado a todo tempo: hoje os casos graves da Covid-19 são de não vacinados”.

Em seguida, Maria Helena iniciou sua fala contando sua experiência pessoal e profissional na Rocinha, lugar onde nasceu e vive até hoje. Ela lembrou estratégias adotadas nas décadas de 70 e 80, com campanhas que circulavam todas as localidades, desde as casas localizadas na ponta do Morro Dois Irmãos até as de cima do túnel, e que eram feitas com proximidade da realidade do público atendido.

“Acompanhei o PNI em 1976 e as pesquisas clínicas da tetravalente, pentavalente. Aprendi nessa minha trajetória em Atenção Primária que o que causa impacto na população e em saúde pública é tampar vala e fazer vacina. Participei da  primeira expansão da Atenção Primária na cidade do Rio na década de 80, com instalação de Centros Municipais de Saúde (CMS) no Vidigal e na Rocinha, com o Albert Sabin. E ali a gente foi crescendo, tinha uma equipe que não chegava a 50 pessoas, por isso, contávamos muito com voluntários. O treinamento se dava em espaços de igrejas.  A gente nunca perdeu vacina por falta de luz elétrica. Como anotávamos tudo à mão, sabíamos onde e com quem morava a Dona Maria, quais doses faltavam. A gente ia para a rua e buscava as pessoas para vacinar”, recordou.

Maria Helena acrescentou ainda que um aprendizado adquirido é que em, se tratando de saúde, não se deve perder oportunidades. Por isso, novos espaços para vacinação foram angariados a partir de negociações com grandes empresários. Botafogo Praia Shopping e Hotel Fairmont são exemplos. 


“Toda vez que não tem filas nas UTIs, celebramos. A doença não vai passar. Vamos ter que aprender a conviver com ela. Até porque nosso comportamento não favorece que o vírus fique escondido. As florestas estão devastadas. E temos também o negacionismo, as fake news, o atraso na chegada das vacinas, que são grandes obstáculos. Como resolve o atraso? Nas urnas quando tivermos um governante que governe para o povo”, assinalou a especialista.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2010 a 2018, 23 milhões de mortes foram evitadas por conta das vacinas. A cada ano, cerca de 3 milhões de vidas são salvas devido à vacinação. A informação está disponível na lista com as 10 maiores ameaças à saúde global, publicada em janeiro de 2019 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). (Acesse ttps://bit.ly/3rKi7xX)

Lurdinha e Maria Helena ressaltaram que para se alcançar a descoberta de uma vacina, cientistas se dedicam, realizam sucessivos estudos clínicos e testes rigorosos e, por isso, a população não deve temê-la. Para elas, o temor deve ser direcionado ao risco de morte e sequelas. Em casos de Covid-19, por exemplo, foram apontados distúrbios cardíacos e diabetes como sintomas pós-doença. Entretanto, por se tratar de um novo vírus, pode ser que outras sequelas, até então desconhecidas, possam afetar e muito a qualidade de vida do paciente.

Além da vacina, recomendaram a permanência de cuidados como: distanciamento social, máscara facial e assepsia frequente das mãos – hábitos de um novo tempo.

Lurdinha Maia e Maria Helena de Carvalho participam de live com mediação do geógrafo e fundador do Museu Sankofa, Antônio Carlos Firmino

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