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O Ativismo de Histórias chega ao Brasil

Webinário com Mary Alice Arthur impulsiona histórias de justiça social e ambiental

Como uma grande fogueira que aquece os que estão à sua volta, o Webinário Histórias Criam Futuros: Ser ativista de Histórias aqueceu a manhã de sábado dos participantes com a facilitadora de mudanças estadunidense Mary Alice Arthur. O convite para o evento, realizado no dia 18 de junho, partiu do CECIP, que possui conexões diretas entre seus projetos e atuação de base Freiriana e a maneira como Mary Alice enquadra seu trabalho com histórias a partir do livro de sua autoria:”365(dias) VIVOS!”. Mais de 75 pessoas, entre educadores, representantes de movimentos e Organizações de Direitos Humanos (ONGs), estiveram conectadas experimentando juntas métodos simples e quatro perspectivas diferentes sobre como trabalhar com as histórias implícitas em nosso agir.

O Diretor-Executivo do CECIP, Claudius Ceccon, apresentou o CECIP e dividiu sua opinião sobre a repercussão internacional dos bárbaros assassinatos do jornalista britânico Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, desaparecidos no dia 5 de junho. Para Claudius, a grande repercussão também deve-se ao fato das vítimas serem homens, brancos e, no caso do jornalista, um homem branco de país de primeiro mundo”.

“Neste momento, estamos horrorizados com um crime hediondo, de repercussão mundial. Repercussão mundial porque as vítimas, desta vez, não são indígenas ou ativistas ambientais. Desta vez, a criminalidade, estimulada pela leniência do governo central, assassinou Dom, um jornalista inglês, reconhecido internacionalmente pelo seu trabalho em favor da Amazônia, e de seu companheiro Bruno, um dos mais respeitados indigenistas brasileiros. Eles compartilhavam o amor pelos povos que habitam a floresta, cuja sabedoria e cultura milenar indicam possíveis caminhos para sairmos do impasse que o sistema global de exploração da natureza nos está impondo. Um impasse que caminha a passos largos para a catástrofe. A repercussão dessas mortes é tão grande porque envolve um homem branco, de um país do primeiro mundo, mas nós sabemos que cada vida ceifada nesta luta importa, como importam todas as vítimas da violência oficial contra negros, quilombolas, indígenas e pobres em geral.” 

Madza Ednir, consultora pedagógica do CECIP, introduziu o tema “Ativismo de Histórias” na roda, recordando a primeira vez que teve contato com esta abordagem.Ela contou ainda como o livro “365 (dias) VIVOS!” tocou sua vida e as motivações que nutriram o convite à Mary Alice para este Webinário inédito no Brasil. 

“Foi em 2015 durante um congresso na República Tcheca quando fui convidada por  um grupo formado por jovens europeus para abordar como a pedagogia de Freire é trabalhada na Justiça restaurativa. Foi nessa ocasião que vi a palestra de Mary Alice sobre o poder das histórias. Percebi que da escuridão nascem novas perguntas, que este é um lugar fértil”, afirmou Madza, que em seguida convidou Mary Alice Arthur para a condução. 

Cidadã global, Mary Alice afirmou que sua predisposição para explorar o mundo foi revelada ainda na infância quando aprendeu a andar precocemente aos 9 meses e a ter uma leitura ágil de livros sobre diferentes temas. Disse que cresceu numa casa de segredos com um pai que foi soldado na segunda guerra mundial, e que foi descobrindo aos poucos o seu lugar de trabalho com as histórias ao perceber o quanto elas movimentam pessoas, culturas e podem ser a ponte para os futuros com os quais sonhamos.

“Uma boa história faz com que você queira ficar ativo. Isso é um ativista. Eu quero ser uma ativista. Nossas histórias criam espaços onde podemos nos encontrar, ganhar uma nova compreensão uns dos outros e do mundo mais amplo – e experimentar uma vez mais como estamos intrinsecamente conectados. Toda pessoa é um diamante”, afirmou.

Na sequência, foi iniciada uma dinâmica onde o público foi dividido em trios formados pelo Narrador, por quem faz a Colheita (Harvester) e a Testemunha. Assim, os participantes foram enriquecendo uns aos outros, criando conexões, sentidos e significados. Maria Agraciada, que pertence à etnia Tupinambá, compartilhou sua história de resistência ao resgatar sabedorias do seu povo que foram silenciadas.

“Trago comigo a história do meu povo, que foi dizimado em Pindorama. Cresci entre mundos, onde um deles, o indígena, é velado, foi silenciado. O Brasil é o único país que tem nome de mercadoria. Isso porque fomos invadidos, violentados. É muito tocante nos encontrar neste evento porque há 51 anos eu venho me preparando para falar através de um trabalho de resgate da nossa língua e valorização da nossa cultura”, disse Maria, que faz parte do Instituto Etno e atua em Educação indígena e empoderamento juvenil feminino.

Além da oficina com Mary Alice, convidados especialistas em Educação também incrementaram a programação. “O poder de dar voz a histórias negadas/soterrada” foi conduzida por Christiane Rothier Duarte, Pedagoga, Facilitadora de Mudanças Educacionais; “O poder de emoldurar uma história para criar o futuro que desejamos” foi conduzida por Paulo de Tarso F. Silva, criador, na Finlândia, da Metaphora International, onde atua como mediador de histórias e é consultor para uma educação consciente.Já Madza Ednir foi facilitadora da oficina “O poder de usar a incerteza e “lugares escuros” para formular as perguntas que podem mudar nossas histórias”, que teve como co-facilitadora Edmea Jafet, ativadora de histórias de solidariedade no campo do Serviço Social e no apoio voluntário às causas sociais.

Para Thaís Rosa Pinheiro, CEO da Conectando Territórios, agência de turismo que conecta pessoas à cultura, memória e história afro-brasileira, o Webinário promovido pelo CECIP trouxe acolhimento diante de uma realidade extremamente hostil para se trabalhar com antirracismo, defesa da terra para os povos indígenas, quilombolas, entre outros direitos humanos. Mestra em Memória Social pela Unirio, ela encontrou diversos pontos de contato entre a abordagem de Ativismo de Histórias e sua prática enquanto turismóloga.

“Comunidades tradicionais guardam histórias que são a alma da cultura brasileira. Mas o ensino formal  nas escolas vem transmitindo um repertório padrão que não as valoriza. Por isso, é preciso ir mais à fundo. Meu ativismo foi impulsionado pela força das minhas raízes, pelas histórias que vi e ouvi e pelo meu sonho de ter um país que respeite e valorize todos , sem distinção de classe ou cor de pele. Nada disso acontece se não olharmos de forma crítica para a história única que nos foi contada, refletirmos sobre os privilégios, e a partir deles pensar em ações reais que possam contribuir para que as desigualdades raciais diminuam no Brasil”, opinou. 

Entre palmas e agradecimentos, o evento foi finalizado após um bolo e parabéns-surpresa para Mary Alice, que fez aniversário no dia seguinte. Para ela, “a realização do Webinário foi um presente”. Para o CECIP também. A presença de tantos amigos e parceiros contribuiu para um encontro permeado por esperança, beleza e afeto. Mais do que nunca acreditamos na nossa responsabilidade em criar e estimular histórias que contêm as chaves para novas formas de estar e agir no mundo. É hora de transitarmos para uma história diferente – uma que possa levar a um lugar de justiça, paz, sustentabilidade, onde o bem-estar de todas as crianças, de todos os seres humanos e da Natureza estejam no centro.

ENCARANDO A ENCRUZILHADA JUNTOS: FERRAMENTAS PARA ATIVAR AGORA HISTÓRIAS DE UNIÃO, DEMOCRACIA E SUSTENTABILIDADE NO BRASIL

A edição do livro 365 ALIVE! em sua versão em português está em sua fase final. O CECIP busca recursos para fechar essa produção com a mesma qualidade e apresentação do original, com layout tanto para versão digital quanto para eventuais cópias impressas, disponibilizando a obra em formato de e- book. O objetivo é disponibilizar o download para todos os leitores brasileiros e portugueses interessados em Ativismo de Histórias e transformação individual e social.

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