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Para que não aconteça mais – Por Claudius Ceccon

Cada 1º de abril nos lembra de uma data triste de nossa história. Neste 2024,
ela marca 60 anos do golpe empresarial-militar de 1964, que durante duas
décadas sufocou a liberdade, disseminou medo, prendeu e matou opositores
políticos. Quem sobreviveu àquela época experimentou sofrimentos que
marcaram indelevelmente suas vidas: a tortura, o exilio, a perda de parentes, a
destruição de famílias, o desaparecimento de amigos, o ocultamento dos seus
corpos, e inúmeros outros fatos traumatizantes. Quando dizemos “Ditadura,
nunca mais!” é um grito de alerta, tanto para uma geração que lutou pela
anistia, por eleições diretas, pelo fim do regime, como pelos que hoje vivem um
embate contra as forças da direita, que querem a volta a um passado de terror. 

É preciso se dar conta que 60 anos é muito tempo para essa geração, que só
tem a experiência de viver num regime democrático – por mais relativa que
essa classificação possa ser. Mesmo um governo distópico, cuja continuação
conseguimos evitar, não conseguiu destruir completamente as instituições que
foram criadas com tanta luta.  

Mas o que significa “Ditadura nunca mais” para essa juventude? O que ela
sabe daqueles anos de chumbo? Em que medida ela vive num ambiente onde
direitos são mais propagandeados na teoria do que efetivos na prática? Será
que sem um ambiente de discussão sobre o futuro do país essa juventude não
se considera excluída de decisões que afetam seu futuro?

Há hoje toda uma discussão sobre a ausência de mobilização popular por
mudanças. E também pela falta de consciência do perigo constante de
retrocesso. A passividade será fruto da concepção de que as coisas são
decididas em outro nível, completamente inacessível para os que estamos na
base da pirâmide?

Se isto é verdade, temos uma tarefa urgente: a formação política da juventude
sobre a realidade brasileira. Política – no sentido de uma análise crítica de
nossa história – como um primeiro passo para a tarefa comum de construção
de Políticas Públicas que defendam e ampliem direitos e deveres de uma
cidadania ativa, sem a qual a democracia perde o sentido.

Trata-se da tarefa freiriana de alfabetização de uma nova linguagem. Paulo
Freire trabalhou com camponeses analfabetos que no processo de diálogo se
descobriram depositários de valores e conhecimentos essenciais, que tomaram
consciência de produzir cultura no seu trabalho e lazer e que isto significava
serem capazes de modificar sua história, de mudar seu destino de explorados
e tomar seu futuro em mãos. Isto fez com que o Método Paulo Freire, como
ficou conhecido, se tornasse um instrumento subversivo, revolucionário.

Hoje, da mesma forma, esta alfabetização digital, o aprendizado e a
apropriação de técnicas audiovisuais, que falem às gerações que nasceram e
vivem a realidade de redes sociais e enfrentam o desafio das novas
tecnologias derivadas da Inteligência Artificial devem ser dominadas e
apropriadas. A consciência política é uma garantia de conteúdo eficaz para que
as novas formas de expressão possam ser usadas como instrumentos de
libertação das velhas estruturas patriarcais e racistas que envenenam e
infelicitam nossa sociedade e abrir novas perspectivas para essa juventude e
para o Brasil.

Esta tarefa é de todos. Ela expressa a missão do CECIP e corresponde ao
acúmulo de sua experiência de quase quatro décadas de atividade. É uma
reflexão que compartilhamos com vocês, para discussão e aprimoramento.

Claudius Ceccon
Diretor-Executivo
CECIP Centro de Criação de Imagem Popular
Abril, 2024

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