A história de Dona Lindacy, estudante da Educação Jovens Adultos (EJA) do Ciep Ayrton Senna, na Rocinha, inspirou os participantes do projeto Jovens Repórteres da Rocinha (JRR) a contarem sua história nas telas do cinema. Sensibilidade e um fazer coletivo estão por trás dessa produção que acaba de ser classificada para exibição no Vídeo Fórum, Programa do Festival do Rio dedicado a filmes produzidos no ambiente escolar. “Uma História de Lindacy” será exibido, entre os dias 3 e 13 de outubro, em sessões realizadas no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF).
Foi na escola onde estudam que os caminhos dos JRR e de Dona Lindacy se cruzaram. Num evento de intercâmbio de atividades realizado no pátio, Dona Lindacy conheceu a proposta do projeto e sentiu-se à vontade para falar sobre seus livros, instigando a curiosidade dos estudantes. Ao conversarem com ela, eles descobriram um potente enredo. No laboratório montado no Ciep, tiraram o plano do papel: dedicaram-se à criação do roteiro, à gravação, edição e finalização. O filme foi submetido ao processo classificatório e conseguiu entrar para a lista dos 50 escolhidos.
No documentário, Dona Lindacy compartilha sua trajetória de vida, marcada pela ausência da memória da mãe. Desde cedo, ela aprendeu a lidar com a ausência, uma ferida que a acompanhou durante toda a vida, já que nunca conheceu sua genitora. Essa falta foi determinante para buscar na escrita uma forma de criar suas próprias memórias, de eternizar experiências e sentimentos que, de outra maneira, poderiam se perder no tempo.
Através de sua narrativa, ela ensina sobre resiliência, sobre a importância de não se esquecer do que se vive, e sobre a capacidade de transformar dor em arte.
“A inclusão deste filme no Festival do Rio reconhece o empenho dos jovens repórteres da Rocinha, e a valorização de histórias cotidianas que, muitas vezes, permanecem à margem. É um momento de celebração para todos os envolvidos, uma oportunidade de mostrar, por meio deste festival, que as favelas do Brasil são carregadas de narrativas poderosas, capazes de tocar corações e provocar reflexões”, afirma Noale Toja, coordenadora do projeto e educomunicadora do CECIP.
Entre os Jovens Repórteres, o orgulho de ter um trabalho classificado para um evento de porte internacional é geral.
“É incrível participar pela primeira vez dessa experiência. A gente evoluiu e aprendeu junto fazendo esse documentário. É um orgulho ter o nosso filme como um dos escolhidos. Me sinto privilegiado por ter tido essa oportunidade”, afirma Thomas Santos Silva, de 17 anos.
O Jovens Repórteres de Bairro da Rocinha é um projeto do CECIP, no âmbito do Plano Integrado de Saúde nas Favelas do Rio de Janeiro, com apoio da Fiotec e Fiocruz. Desde novembro do ano passado, estudantes do primeiro e segundo ano do Ensino Médio do Ciep Ayrton Senna, na Rocinha, vêm trocando saberes em oficinas de comunicação comunitária, com enfoque em saúde. O objetivo é que eles sejam produtores e multiplicadores de informações na comunidade.