Poucos são capazes de se engajar em lutas contra moinhos de vento. A batalha pode ser inglória, mas vencer não é tudo. Mais fortes são os poderes da imaginação, da arte e da esperança.
Não à toa, Dom Quixote é uma inspiração frequente do cartunista Claudius Ceccon. Basta dar uma olhada em seu cavaleiro idealista para ver naquele homem magro, alto e de cavanhaque o alter ego do criador.
É seguindo as pegadas do fiel cavalo deste Claudius Quixote que se entra na exposição em sua homenagem, em cartaz no Sesc Santo Amaro, em São Paulo, até 27 de julho. “Claudius: Quixote do Humor” apresenta mais de 300 trabalhos, representativos de cinco décadas de produção, de forma interativa e visualmente impactante.
“Eu sou o chamado Curador: escolhi os desenhos, participei ativamente do design da exposição, sugeri a arquitetura do espaço, discuti cada detalhe, vi a planta… mas quando me deparei com a coisa montada, foi um choque! Imaginem que um desenho do qual gosto muito, cujo original está numa folha A4 (30 x 21cm), aqui está cobrindo toda uma parede com 2 m de altura! E sem perda de qualidade! Fiquei emocionado pra caramba!”, contou o artista para a equipe do CECIP, às vésperas da abertura da exposição.
Claudius Sylvius Petrus, com este nome de imperador, sempre escolheu as andanças errantes, daquelas que olham para a realidade e procuram enxergá-la de outro jeito. Por sorte nunca lhe faltariam sensibilidade e talento para traduzir esta inquietação com humor, crítica e poesia.
Desde os anos 1950, quando estreou profissionalmente na revista O Cruzeiro e passou a fazer caricaturas políticas para o JB, Claudius capta a realidade social do país como matéria-prima visual para sua criação. Em 1964 juntou-se a Millôr Fernandes na revista Pif-paf e dali se aproximou a um grupo de talentosos cartunistas e comunicadores para criar o antológico jornal O Pasquim, tremendo sucesso editorial, uma ilha libertária cercada de ditadura por todos os lados. Ilustrou livros infantis que se tornariam clássicos no gênero, como Menina bonita com laço de fita e a série Mico Maneco, ambos em co-autoria com Ana Maria Machado.
Acompanhando as transformações do país, Claudius viu na redemocratização dos anos 1980 uma oportunidade de juntar arte, comunicação e educação como instrumentos para fortalecer a cidadania. Aliou-se a outras pessoas preocupadas em contribuir para o país, como o educador Paulo Freire e o cineasta Eduardo Coutinho, e conceberam o Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP), que nasceu em 1986 por meio do projeto de vídeo popular TV Maxambomba. Como se pode ver nas páginas deste site, a marca de Claudius acompanha as quase três décadas de atuação do CECIP, seja nos desenhos e ilustrações seja na concepção ao mesmo tempo política e criativa de cada projeto e produto. “Sempre considerei educação e comunicação como uma unidade indivisível, na mesma face de uma moeda na qual o outro lado é a conquista da plena cidadania”, comentou, para o site Observatório da Imprensa.
Toda esta multiforme trajetória foi transformada em exposição pela SuperUber, produtora cultural especializada em tecnologias multimídia e interativas. Tem “chuva” de bolas virtuais e uma mesa para desenhar e juntar sua criação às de Claudius, entre outras surpresas dignas de moinhos que ganham vida.
Exposição: “Claudius: Quixote do Humor”
Local: SESC Santo Amaro
Endereço: Rua Amador Bueno, 505, Santo Amaro – Telefone: (11) 5541-4000.
Abertura para convidados: 7 de maio, às 20h.
Exposição: de 8 de maio a 27 de julho.
De terça a sexta, das 11h às 21h. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h.